Overthinking: quando a mente se torna nossa maior inimiga
Para todas as pessoas que pensam demais
Cabo de guerra... eu me lembro dessa brincadeira na escola. Cada pessoa segurava uma ponta da corda e aquela que conseguisse arrastar a outra para cruzar a linha primeiro era o vencedor. Hoje, penso que talvez seja mais ou menos isso que acontece na mente... Na minha pelo menos, existe uma parte positiva cheia de paz e amor, guerreando com outra parte intensamente negativa e ansiosa. E eu me vejo no meio desse limbo constante, torcendo para que o lado bom cruze a linha primeiro e vença a partida.
Até que em boa parte do tempo me considero uma pessoa tranquila e positiva, dessas que buscam enxergar o lado bom de tudo. Mas tenho uma mania terrível de pensar demais, e isso acaba me levando a um lugar de insegurança e negativismo. Rumino tanto os pensamentos que para algumas situações chego a ter pelo menos três teorias diferentes para justificar o fato de que tudo pode dar errado de alguma maneira.
E sabe o que descobri outro dia? Que pensar demais é um hábito mais comum do que eu imaginava e há até nome para isso: overthinking. E as pessoas que assim como eu pensam demais e analisam minuciosamente as situações a ponto de criar preocupações e cenários completamente desnecessários em suas mentes são chamadas de overthinkers. E como não poderia ser diferente, já pensei tanto à respeito que tenho uma explicação para isso…
Bom, temos um sistema inteligente de funcionamento chamado consciente/inconsciente. O consciente nos faz ter pensamentos e percepções racionais, enquanto o inconsciente processa informações automaticamente e influencia o nosso comportamento com base em memórias e padrões que já estão ali armazenados. Algumas pessoas overthinkers simplesmente têm um pensamento mais acelerado ou gostam de antecipar cenários para se sentirem preparadas. Mas, em alguns casos, o hábito de ruminar pensamentos pode ser um reflexo de medos inconscientes, inseguranças ou crenças limitantes há muito tempo enraizados. [Fonte: vozes da minha cabeça.]
Já ouviu dizer que “a mente mente”? Pois é, ela mente mesmo. E muito! Isso porque, diante de uma situação qualquer, nosso cérebro, na tentativa de garantir a nossa segurança, pode ativar o portal de memórias passadas e se basear nessas experiências para formar a nossa percepção do agora. E a tensão gerada pela possibilidade de reviver aquelas vivências passadas potencializa o modo ruminador de pensamentos, nos fazendo criar cenários mirabolantes que aumentam ainda mais a ruminação e nos faz entrar nesse círculo vicioso interminável.
A intenção da mente até que é boa: nos proteger de viver novamente situações que já nos causaram danos em outros ocasiões. Mas a lógica é falha, já que raramente uma experiência é igual a outra. E talvez seja exatamente isso que devemos mostrar para a nossa mente agora. Treinando-a para pensar de forma neutra e objetiva, e interpretar as coisas como elas são: verdadeiras telas em branco que podem ser pintadas como desejamos. [E apenas de modo consciente podemos escolher as cores certas.]
Sinceramente, acho que pensar demais à luz do passado é um tremendo desserviço da mente. Confesso que já perdi muito na vida ao interpretar situações simples de maneira complexa, por ficar ruminando demais as coisas levando em conta uma bagagem emocional trazida de outros tempos. Hoje percebo o quanto esse modus operandi ruminador de pensamentos pode nos colocar numa posição autossabotadora.
Quantas vezes pensamos tanto até nos vermos paralisados pelo medo, pela insegurança, pelo excesso de autoproteção? Quantas vezes perdemos coisas, pessoas ou oportunidades por ruminar tanto os pensamentos a ponto de meter os pés pelas mãos? Quantas vezes vivemos presos em outro tempo, ora imersos nas memórias passadas, ora plantados nas terras férteis do futuro? E, enquanto isso, o presente nos escorre por entre os dedos…
Outro dia, me vi de novo numa situação recorrente em que, de tanto ruminar pensamentos, acabei enxergando pelo em ovo, colocando à prova uma situação importante. Ali percebi que preciso urgentemente largar essa mania. Especialmente quanto aos pensamentos negativos que eu sei que vêm de um lugar de desconforto já conhecido. Mas reconheço que não é uma tarefa simples. Às vezes, vivemos a vida toda funcionando com uma programação X. Para mudar para Y, é um processo longo e contínuo.
Eu, por exemplo, quando estou diante de uma situação em que alguém muda minimamente o comportamento comigo, já começo a elaborar os piores cenários possíveis para justificar a mudança. Mas agora já sei que isso acontece porque em alguma janela da memória, a mudança repentina de alguém significou algo negativo para mim. Entender isso tem me ajudado a ter mais paciência comigo mesma e me feito policiar mais na ruminação diante de situações como essas. Então, à medida que percebo que estou levantado defunto da cova, como diria minha avó, já corto o pensamento dizendo: “ei querida, dá um tempo!” Porque se eu não parar de ruminar ali, os pensamentos vão longe e me jogam no mato.
A mente precisa de segurança para se aquietar. E a ruminação de pensamentos é uma resposta conhecida para alcançar isso, porque permite, em tese, que ela esteja preparada para o que vier. Mas podemos mostrar à mente que existem outras maneiras bem mais eficazes de obter essa segurança.
A tranquilidade também proporciona segurança.
Diante de uma situação que engatilha a ruminação, em vez de mergulhar nos pensamentos que surgirem, para tentar resolver a questão na hora, podemos experimentar desviar momentaneamente o foco para coisas que proporcionam tranquilidade e equilíbrio. Agora, quando começo a criar um cenário ridiculamente negativo na minha cabeça, eu paro e mudo o foco. Porque, como disse, se eu continuar dando corda aos meus pensamentos naquela hora, vou ruminar até chegar à conclusão mais terrível de todas e acabar me sabotando. Se eu mudar o foco naquele momento para outras coisas e esperar minhas emoções se assentarem um pouco, vou conseguir pensar com mais clareza e racionalidade sobre a questão.
Quanto mais alimentamos o conflito emocional, mais ele ativa a ruminação mental e nos faz ter acesso a experiências negativas já vividas e interpretar uma situação totalmente nova, de uma forma antiga. Um ciclo infinito e autodestrutivo.
Outra coisa ótima para quando a ruminação bater à porta é praticar a respiração consciente. Parar e fazer uma respiração profunda por alguns segundos, prestando atenção apenas na respiração ajuda bastante a aquietar a mente, porque nos traz de volta para o presente. Quando nos concentramos exclusivamente na respiração, a mente se acomoda no momento e não consegue vaguear.
Ruminar cansa, literalmente!
Quando pensamos demais gastamos deliberadamente a energia do cérebro e, consequentemente, sentimos uma fadiga excessiva. Você já teve a sensação de sentir um baita cansaço mesmo sem ter feito praticamente nenhum esforço? Nada além de pensar bastante? Pois é, nesse caso, talvez a questão não seja simplesmente uma falta de vitaminas, mas um sinal claro de que algo precisa mudar: o estilo de vida. Andar descalço na terra, cuidar de plantas, ter animais de estimação, fazer novos amigos, experimentar novos hobbies, bater papo com os vizinhos, cumprimentar pessoas aleatórias na rua, ler bons livros, meditar sobre a vida, se dedicar à espiritualidade, escrever textos e poesias, brincar e se sentir criança de novo, namorar, rir de qualquer coisa, saber fazer de cada ambiente um oásis de alegria e descontração.
Resumindo tudo:
A mente ruminadora está sempre focada no futuro ou no passado. Para melhorar nossa relação com esse hábito que pode ser um tanto quanto destrutivo, precisamos resgatar a mente de outros tempos e trazê-la para o presente. Isso alivia a tensão mental gerada pela preocupação excessiva. Dessa forma, podemos, aos poucos, treinar a mente para encontrar segurança sem recorrer à ruminação.
Sei que falando parece muito mais fácil do que realmente é na prática, afinal, diante de uma situação que ativa o nosso modo ruminador, se controlar não é tão simples. Mas é algo que pode ser treinado. Só o fato de entendermos o quanto pode ser destrutivo manter esse hábito de ruminar demais os pensamentos já é um ótimo começo. Aos poucos vamos aprendendo a interromper esse ciclo e a ter mais controle sobre o fluxo de pensamentos, trazendo mais leveza para a vida, em especial à mente.
Até a próxima!
Andressa
Uau, que texto incrível! Expressou exatamente como me sinto e ainda mostrou formas de como evitar esse "pensar demais". Aliás, gostei muito do seu estilo de escrita, prende demais do começo ao fim 🫶🏻
obg substack por coisas assim no meu caminho