É muito clichê dizer que a ansiedade é o mal do século? Acho que sim… Mas peço licença poética para fazer isso. Infelizmente, essa perigosa emoção tem cercado todo mundo, e ela chega sem pedir licença, acelerando nossos pensamentos e nos arrastando para a autocobrança, para o perfeccionismo, para a insegurança...
Não é a toa que a ansiedade apareceu entre as novas emoções no filme Divertida Mente 2. Quase que incontrolavelmente ela tenta assumir o controle das nossas vidas, ditando um monte de regras sem sentido, nos colocando numa posição exaustiva, autossabotadora e bem distante de quem realmente somos.
Quem assistiu ao filme vai se lembrar de como a Riley mudou quando a ansiedade deu as caras na vida dela. Ela acabou se afastando das amigas para pertencer ao novo time; viu seu prazer pelo esporte ser contaminado pela necessidade de validação; se sentiu sufocada pela autocobrança… tudo em função de uma vozinha em sua cabeça que a deixava insegura, com medo de não ser perfeita, de falhar, de não ser aceita. E quantas vezes a gente se vê nessa mesma situação? De autocobrança para sermos perfeitos, produtivos, reconhecidos, pertencentes? É um ciclo infinito… a ansiedade gera insegurança, que por sua vez aumenta a ansiedade, que acaba reforçando a insegurança, e por aí vai…
A Riley só conseguiu reencontrar o equilíbrio e retomar sua verdadeira essência quando a ansiedade foi retirada do comando. E o mesmo vale para nós, precisamos encarar a ansiedade e desafiar sua autoridade para recuperar o equilíbrio da nossa mente.
A ansiedade, muitas vezes, nasce da preocupação excessiva com o futuro.
É como se a mente tentasse prever todos os cenários possíveis para nos preparar, na esperança de evitar surpresas e nos proteger de qualquer dor. Mas essa tentativa de controle é ilusória. Por mais que a gente tente antecipar o que está por vir, a verdade é que a vida é imprevisível, e quase tudo está fora do nosso alcance.
A única coisa que realmente podemos controlar é a forma como reagimos: nossos pensamentos, nossas atitudes, nosso olhar diante das situações. Quando entendemos isso, damos o primeiro passo para soltar o peso da ansiedade e viver com mais leveza no presente.
Tentar controlar as coisas é como ferver leite: se ficamos em cima esperando, demora além da conta; mas, um pouco que nos distraímos, ele ferve e derrama. É preciso soltar para que a vida possa fluir. E confiar no ritmo natural das coisas, na certeza de que tudo tem uma razão de ser, mesmo que na hora a gente não consiga compreender.
Dicas amenizadoras de ansiedade:
Para amenizar os efeitos da ansiedade, precisamos criar nossas pequenas ilhas de sossego. Momentos de pausa e presença que nos permitam respirar em meio ao caos. Espaços em que podemos nos reconectar com o agora e aliviar a pressão constante de uma mente preocupada. Verdadeiros refúgios nos dias agitados, onde a mente encontra descanso, mesmo que a vida continue correndo lá fora…
Mindfulness:
Ano passado, conheci melhor o mindfulness porque foi uma disciplina no meu curso de pós-graduação. Achei a prática bem eficaz e interessante. Enquanto a ansiedade tenta nos projetar para o futuro, o mindfulness nos mantêm no presente.
Em tradução livre, mindfulness significa: atenção plena. A prática nos ensina a focar exclusivamente no momento presente, sem nos deixar dominar por pensamentos ou distrações. A ideia é realizar todas as atividades do dia a dia com toda a nossa atenção e presença, para que as experiências sejam verdadeiramente percebidas e sentidas.
Nada de fazer mil coisas ao mesmo tempo. O mindfulness nos ensina a dedicarmos inteiramente ao aqui agora. Por exemplo, ao fazer uma refeição, cuidar para estar totalmente presente ali, sem distrações, sentindo o sabor e a textura de cada alimento. Outro exemplo é priorizar treinos sem música, podcasts ou livros, apenas prestando atenção nos movimentos do corpo, na respiração. Isso porque, ao estarmos absolutamente presentes no que estamos vivendo no agora, nossa mente relaxa e consequentemente os níveis de estresse e ansiedade diminuem.
Muitas vezes, a ansiedade se relaciona com a projeção para o futuro e tudo que não está no passado ou no presente, é futuro. O próximo minuto é futuro.
Hobbies:
A cada tempo livre que temos somos tentados a pegar o telefone, pois ele está sempre fácil à mão, pronto a nos proporcionar momentos de distração e prazer. Mas, em contrapartida, o excesso de tempo online nos leva à comparação, à aceleração, e consequentemente ao aumento do estresse e ansiedade.
Notei muita diferença no meu nível de ansiedade ao trocar o uso do telefone por hobbies reais. Optei por práticas leves e tranquilas, que me proporcionam dedicação exclusiva, concentração e um prazer mais consistente e duradouro. Nessa hora acho válido experimentar várias opções de hobbies para conhecer e identificar aquelas que mais tem a ver com a gente. Eu me arrisquei na aquarela, cerâmica, colagens, literatura...
Confesso que não nasci para pintar, sou muito ruim nisso e a cada tentativa eu me frustrava mais. Cheguei a comprar um curso online, mas não resolveu, realmente me falta aptidão. Mas aos poucos fui aceitando. Essa coisa de precisar ser bom em hobbie já é demais né? Seria muita besteira da minha parte deixar de fazer uma coisa que eu gosto apenas por não ser boa nela…
E eu amo aquarela! Relaxa um tanto que não sei mensurar. É muito bom para desacelerar e controlar o fluxo de pensamentos. É algo que realmente me desliga e pretendo continuar fazendo, ainda que não possa compartilhar minhas pinturas em pelo menos 90% das vezes [rs].
Fazer cerâmica também achei uma experiência muito boa. Ano passado, participei de uma oficina que aconteceu aqui na cidade e achei o máximo passar algumas tardes com senhoras empenhadas em fazer arte. O único problema é a dificuldade de queimar as peças depois. Elas precisam ser queimadas em forno, para que não se quebrem com facilidade. Como não tenho acesso fácil à essa queima, uma opção que gostei foi a cerâmica fria. A massa já vem preparada, aí é só modelar e já está pronto, só lixar e pintar.
Escrever aqui no substack também é sensacional, tenho amado. Mas a minha paixão mesmo tem sido as colagens. Assinei uma revista física, a Cláudia, para relembrar os tempos da adolescência em que eu amava ler revistas. Todo mês chega um exemplar, que eu leio e depois recorto. Acho uma das melhores sensações da vida, dar liberdade a imaginação no surrealismo das colagens. A mente se descarrega no papel. Funciona super bem para aliviar a minha ansiedade. Juro! Experimentem!
Outra coisa que achei ótimo foi trocar os livros de aprendizado e autoajuda por literatura. Confesso que me cansei de aprender coisas… afinal, o tempo todo somos bombardeados de informações por todos os cantos. Então, sempre que posso me afastar disso eu me afasto. Sei lá, acho que cheguei no ponto de querer desapreder coisas… Quanto mais informações tem na nossa cabeça, mais acelerada a nossa mente fica. E quanto mais acelerada a mente está, mais ansiosos ficamos.

Essas foram as pequenas ilhas de sossego que encontrei para lidar melhor com a ansiedade. Sei que elas não vão funcionar para todo mundo, mas quis compartilhar como uma forma de lembrete para a importância de encontrarmos a nossa própria maneira de tirar a mente do futuro e devolvê-la ao presente. Porque isso já vai ajudar muito no controle da ansiedade.
Infelizmente, não conseguimos mudar o mundo à nossa volta e torná-lo menos acelerado, mas podemos mudar o nosso próprio mundo e deixá-lo mais quieto e saudável.
Em meio ao caos diário, que a gente nunca deixe de visitar nossas ilhas de sossego…
Até a próxima!
Andressa