Hygge: o segredo dinamarquês para a felicidade
Uma filosofia de vida com cheiro de aconchego e bem-estar
Hoje, enquanto escrevo, uma chuvinha fina está caindo lá fora. O dia está cinza, mas tentei trazer mais cor e aconchego para o meu cantinho. Deixei a janela aberta para permitir a entrada de um pouco de luz e também desse cheirinho de terra molhada. Escolhi uma playlist de música clássica que está tocando baixinho. E percebo que já estou usando muito o diminutivo. É que tudo isso deixa o momento tão... hygge. E eu amo esse jeito dinamarquês de encarar a vida. Inclusive, hoje venho falar sobre isso. Sobre hygge (se pronuncia “ruga”), o segredo dinamarquês para a felicidade.
Os dinamarqueses idealizaram uma filosofia de vida que prioriza o conforto, o aconchego, a conexão e o bem-estar no dia a dia, ainda que de maneira bem simples. Eles encontraram uma maneira de olhar para o cotidiano com leveza e gratidão, especialmente nos dias cinzentos. Para isso, deram o nome de hygge. O mais interessante de tudo é que a Dinamarca é simplesmente considerada o segundo país mais feliz do mundo[1]. E é claro que podemos nos inspirar neles!
A essência do Hygge:
Na Dinamarca, o clima é predominantemente frio. Os invernos são rigorosos e longos. Os dias são curtos e muito escuros em boa parte do ano. Provavelmente, isso faz com que os dinamarqueses passem mais tempo dentro de casa e, por isso, buscam deixar o ambiente o mais agradável possível, investindo em conforto e aconchego.
Os dinamarqueses têm princípios e valores muito bem delineados, e são totalmente voltados para o bem-estar de uma vivência plena. Eles priorizam o conforto na simplicidade, o aconchego, a conexão, o equilíbrio e valorizam muito os prazeres simples do cotidiano. E esses detalhes permeiam o hygge.
Olha que interessante: embora a predominância de dias frios e cinzentos tivesse tudo para deixar os dinamarqueses tristes, ranzinzas ou até depressivos, foi justamente ela a razão para que aquele povo idealizasse um estilo de vida que se adaptasse positivamente às circunstâncias. Eles souberam fazer do limão uma bela limonada.
Além de supervalorizarem as conexões humanas, os dinamarqueses valorizam muito aquilo que eles não têm em abundância, como a luz solar e o contato com a natureza. Por isso, buscam levar esses elementos para dentro de casa, tornando o ambiente mais acolhedor e agradável. Eles investem em coisas sutis, mas que fazem toda a diferença.
Na Dinamarca, mais do que ter beleza, uma casa precisa acolher. A arquitetura escandinava traduz esse valor criando ambientes que convidam à presença, ao afeto e à convivência. Os espaços são aconchegantes e revelam o que é mais importante para eles: a vida natural e o estar junto, de forma simples e genuína.
Benefícios práticos do Hygge:
Menos ansiedade, mais leveza – O hygge nos convida à pausa, à desaceleração. Ao valorizar o momento presente e criar ambientes acolhedores, ele ajuda a dissolver a pressa e a ansiedade, permitindo que a calma se instale, mesmo nos dias turbulentos.
Equilíbrio – Ao promover um ritmo de vida mais consciente, o hygge favorece o equilíbrio entre o fazer e o sentir, entre as demandas do mundo externo e as necessidades internas. Não se trata de perfeição, mas de encontrar um ponto de estabilidade em meio ao caos.
Mais tranquilidade – O hygge nos conduz a um estado de paz e tranquilidade profundo. Os pequenos rituais, o contato com o que é real, os espaços que abraçam; tudo isso contribui para uma sensação de calmaria e pertencimento que não depende do que está acontecendo lá fora, apenas do aconchego que criamos aqui dentro.
Coração mais grato – O hygge desperta uma percepção mais sensível para o cotidiano. Enxergamos beleza no que antes passava despercebido. Isso nos torna mais gratos. E quando agradecemos até mesmo pelas pequenas coisas, ampliamos a nossa sensação de contentamento, gerando cada vez mais motivos para agradecer.
Como podemos trazer a essência do Hygge para as nossas vidas?
Em casa:
Nada de cortinas fechadas por todos os cantos, é bom aproveitar ao máximo a luz do dia.
Usando cores claras e materiais que refletem a luminosidade.
Incluindo elementos naturais na decoração, pois eles trazem vida ao ambiente (plantas, madeira, pedras, lã, cerâmica...).
Usar algum cheirinho nos ambientes proporciona uma sensação muito gostosa e aconchegante.
Preferindo a iluminação suave ou amarela, e usando velas, mantas, almofadas, móveis confortáveis e espaços de convivência calorosos.
Mantendo por perto itens e detalhes que remetam à boas lembranças, coisas que acolhem e nos façam sentir bem.
O mundo lá fora pode até parecer hostil, mas o nosso lar pode ser acolhedor, confortável e bonito, ainda que simples.
No dia a dia:
Criando uma espécie de ritual para fazer as coisas normais da rotina, por exemplo:
Tomar um chá quentinho enquanto faz uma leitura antes de se deitar;
Criar um ambiente aconchegante na hora do banho, com luz baixa ou velas e uma música tocando baixinho;
Usar luzes amarelas, principalmente no quarto ou na escrivaninha;
Manter um cantinho acolhedor para escrever, com decorações que carregam afeto e boas memórias…
No estilo de vida:
Fazendo caminhadas, passeios ao ar livre e mantendo uma relação de respeito e apreciação pela natureza.
Cultivando plantas, jardins, hortas (mesmo que sejam aqueles modelos verticais para apartamentos e varandas), tudo para preservar essa conexão com a natureza.
Fazendo mais do que nos faz bem. Sem abrir mão de encontrar tempo e espaço para isso.
Priorizando as conexões reais: criando momentos descontraídos com a família e amigos, incluindo jogos, conversas verdadeiras, mantendo a atenção plena no momento e o celular longe das mãos.
A vida não espera por momentos perfeitos para acontecer. Ela pulsa, simples, no agora.
Hygge não é mais um conceito ou um estilo de vida, é um lembrete para valorizarmos aquilo que temos de mais precioso: a nossa existência e as pessoas com quem a compartilhamos. Às vezes, fazemos tudo no automático ou nos voltamos tanto para o virtual, para o trabalho, para as diversas demandas da vida que acabamos nos esquecendo de cultivar o nosso bem-estar e as conexões que nos são caras.
A verdade é que tudo o que nos remete à vida nos traz vida, e tudo o que nos remete ao artificial, de certa forma, nos rouba um pouco de vida. Repara o quanto ficamos bloqueados na criatividade quando passamos tempo demais na frente das telas, trabalhando demais, estressados demais. E o quanto nos vemos criativos quando estamos em contato com pessoas reais, hobbies reais ou com a natureza.
Nem tudo na vida está sob o nosso controle. Existem coisas que acontecem diariamente que nos entristecem, nos chateiam e, às vezes, até roubam o nosso ânimo, mas há uma luzinha no fim do túnel. Uma maneira de deixar a vida mais leve e confortável. Como os dinamarqueses, fazendo pequenas coisas que tornam o dia a dia mais acolhedor e agradável. E mesmo que isso pareça pouco, faz uma diferença danada na prática. Já ouviu falar que o ambiente influencia a gente? É verdade, ele influencia mesmo.
Um dia ruim pode ser só mais um dia ruim ou pode ser um dia ruim vivido de uma forma extremamente delicada e cuidadosa.
Que a gente saiba criar nossos espaços de contentamento apesar de todo o caos dos dias corridos. Que a gente saiba ser abrigo uns para os outros e não permita que a hostilidade do mundo contamine o nosso mundo interior. Inspirados pelo hygge, que possamos fazer do limão uma limonada sempre que for preciso...
Até a próxima!
Andressa
Nota:
[1] A Dinamarca é considerada o segundo país mais feliz do mundo, conforme o Relatório Mundial de Felicidade, publicado anualmente pela ONU. Trata-se de um estudo que avalia os países para medir o bem-estar e a qualidade de vida das populações. A Dinamarca só perde para a Finlândia que ocupa o topo do ranking há anos e cujo povo também prioriza o estilo de vida desacelerado e carregado de significado e propósito.
Amei o texto 🥰 Eu moro Finlândia e usamos isso como um meio de sobrevivência aos dias frios e escuros. Manter o ambiente mais aconchegante torna a vida mais fácil a escuridão do país.
Obrigada pelo texto!